É muito comum as pessoas entrarem para o mundo da corrida e logo se apaixonarem pela modalidade. Aí, junto com a busca pela endorfina e por melhores resultados vem a dúvida: posso correr todos os dias? Existe um limite máximo de treinos por semana?
Essas questões ganham mais força quando um atleta amador conhece outro mais experiente que tem o hábito de correr cinco, seis, sete vezes por semana, e por isso indica a prática. Se aquele corredor faz seus quilômetros todos os dias e está satisfeito, por que não fazer igual?
Segundo especialistas, expor o corpo ao mesmo tipo de exercício por vários dias seguidos e sem um período adequado de descanso não está entre as recomendações para um programa de treinamento saudável. Ao correr todos os dias, o atleta amador exige das mesmas estruturas musculares e articulares, sem dar a elas o período necessário para que se recuperem. Isso porque, muitas vezes, um intervalo de 24 horas não é o suficiente para o organismo se refazer do estímulo da atividade.
Correr todos os dias, em princípio, não é indicado. É importante fazer exercícios físicos todos os dias, mas não a mesma atividade. Quando exercitamos as mesmas estruturas diariamente, da mesma forma, aumentamos muito o risco de lesão.
Treinar mais não garante melhor resultados
Existe uma falsa impressão de que correr todos os dias é sinônimo de estar mais treinado, uma garantia de melhores resultados. No entanto, se seu corpo está cansado da atividade anterior, o exercício pode não ter qualidade suficiente para proporcionar estímulos que vão fazer o condicionamento físico evoluir.
Entenda que o descanso é tão importante quanto a corrida. O corpo evolui no período de recuperação. Sempre repetimos o mantra de que o descanso é parte essencial do treinamento. Serve para o atleta se recuperar e partir em melhor condição para a próxima sessão.
Imagine uma sequência de três dias seguidos de corrida intensa. No segundo, seu corpo ainda está se recuperando da primeira corrida e já não conseguirá corresponder da melhor maneira ao estímulo. No terceiro dia, a fadiga será ainda maior. Por mais que você se sinta bem e queira continuar, suas estruturas estarão mais desgastadas. Além de a chance de lesão aumentar, você não estará dando seu melhor, e quem definiu isso foi seu organismo.
Para piorar, expor o corpo a tantas corridas seguidas também pode levar a pessoa ao overtraining, síndrome que desencadeia sintomas como insônia, queda na imunidade, irritabilidade, perda de apetite, entre outros. Assim, crescem as chances da necessidade de parar de correr.
Direcione sua energia
Além de reduzir os riscos citados acima, seguir a recomendação de não correr todos os dias também traz benefícios se o atleta aproveitar para fazer outros treinos. Trocar uma sessão de corrida por um trabalho de fortalecimento muscular orientado, por exemplo, permitirá que as estruturas mais exigidas ao correr descansem e que o corpo fique mais preparado para o esforço físico.
Sem falar que o fortalecimento é recomendável para quem quer praticar qualquer atividade física aeróbica como a corrida. O mesmo acontece com trabalhos de flexibilidade (alongamentos), que trazem inúmeros benefícios ao esportista.
Então, procure correr em dias alternados –segunda, quarta e sábado, por exemplo — e variar as atividades em outros dias. Dependendo do caso e com orientação profissional, você pode até correr em dois dias seguidos ao longo de uma semana, desde que uma das atividades seja em ritmo bem leve.
Seguir a planilha também deixa a gente melhor. Eu confesso que já fui bem mais teimosa. Treinador mandava correr 8km, eu corria 10.
E por aí seguiam as teimosias.
Hoje estou obediente, até porque depois de seis maratonas, haja perna pra tantos quilômetros, né?
Mas e quem já corre diariamente?
Embora não seja recomendado correr todos os dias, existem orientações para quem prefere dar suas passadas diariamente. Uma delas é ter muito cuidado com a relação entre intensidade e volume. Depois de um treino mais intenso, seja em velocidade, seja em distância, a sessão seguinte deve ser mais leve para não sobrecarregar ainda mais o organismo.
Além disso, a variação de estímulos pode ser uma saída em busca da evolução esportiva. É muito comum entre os adeptos da corrida diária manter o ritmo e variar pouco as distâncias, deixando o corpo entrar na zona de conforto. Intercalar entre treinos de resistência e velocidade, por exemplo, é uma maneira de fazer o organismo buscar a adaptação ao esforço e, assim, evoluir.
Mas a principal orientação nesse caso é saber “ouvir” seu corpo, entender seus sinais e respeitá-los. Dores e incômodos persistentes exigem o cuidado de especialistas.
E descansar bem e ter uma boa alimentação, fatores fundamentais para todo apaixonado por esporte, são ainda mais imprescindíveis nesse cenário.
*Virgínia Nalon é atleta da Guana Trainer, jornalista, trabalha na TV Record Minas e nada, pedala e corre.